Os Três Horizontes da inovação e a transformação cultural

Texto original de Daniel Christian Wahl

No outono de 2009, fui convidado a participar do IFF como membro de um pequeno grupo da “próxima geração”. 

O IFF é uma rede colaborativa internacional de pessoas comprometidas em reunir suas experiências e ideias para explorar “os complexos e confusos desafios que nosso mundo enfrenta”, para “apoiar uma resposta transformadora a esses desafios” e para “melhorar nossa capacidade de ação efetiva”.

Uma perspectiva comum compartilhada entre os membros do IFF é a de que precisamos de uma abordagem mais sistêmica para a complexidade dos problemas que enfrentamos e das oportunidades interconectadas. Outra crença compartilhada é a de que, a fim de responder apropriadamente às mudanças que nos cercam, organizações, comunidades, empresas e governos não devem apenas prestar atenção a possíveis respostas de curto prazo aos sintomas dessas crises, mas também abordar os problemas estruturais e as causas sistêmicas subjacentes que impulsionam esses sintomas. Além disso, trabalhar com sistemas complexos exige que aceitemos a incerteza, a mudança e a imprevisibilidade. Nosso objetivo é envolver as comunidades no diálogo cultural mais profundo, aquele que faz o tipo de perguntas e propõe o tipo de respostas provisórias que impulsionam a transformação cultural e o aprendizado contínuo.

Nos últimos dez anos, os membros do IFF e outros futurólogos (ver Hodg- son, Sharpe, 2007; Curry, Hodgson, 2008; Sharpe, 2013) desenvolveram, de forma colaborativa, a estrutura “Três Horizontes”. O Três Horizontes é um método eficaz para compreender e facilitar a transformação cultural e explorar a inovação e a ação sensata em face da incerteza e do não conhecimento. Esta estrutura foi aplicada em vários contextos, incluindo o futuro das infraestruturas inteligentes no Reino Unido, previsão tecnológica na indústria de TI, inovação transformadora no sistema educacional escocês, o futuro da pesquisa de Alzheimer, desenvolvimento da comunidade rural e programas de liderança executiva. É uma metodologia versátil, que convida as pessoas a explorarem o potencial do futuro no momento presente. Para isso, há uma série de perspectivas que devem ser consideradas, a fim de direcionar nosso percurso com sabedoria em meio a um futuro imprevisível.

O esquema Três Horizontes é uma ferramenta de previsão que pode nos ajudar a estruturar nosso pensamento sobre o futuro por caminhos que estimulam a inovação. Ele descreve três padrões ou formas de fazer as coisas e como a prevalência relativa e as interações evoluem com o tempo. A mudança do padrão estabelecido do primeiro horizonte para o surgimento de padrões fundamentalmente novos no terceiro ocorre por meio da atividade de transição do segundo horizonte. O modelo não apenas nos faz pensar em padrões interativos, mas, mais importante, “chama a atenção para os três horizontes sempre existentes no momento presente, e obtemos evidências sobre o futuro a partir da análise de como as pessoas (incluindo nós mesmos) estão se comportando agora” (Sharpe, 2013: 2).

O esquema nos ajuda a nos tornarmos mais conscientes de como nossas intenções e comportamentos de hoje — individuais e coletivos — moldam ativamente o futuro. Com o mapeamento das três formas de nos relacionarmos com o futuro, a partir das perspectivas dos três horizontes, podemos trazer o valor de cada uma delas para a conversa de forma produtiva, promovendo a compreensão e a consciência futuras como bases para a ação colaborativa e a inovação transformadora.

Acredito que os Três Horizontes oferecem uma estrutura importante para pensar sobre a inovação transformadora, que pode ser usada para facilitar a transição para culturas regenerativas. Isso pode nos ajudar a estruturar nossa exploração coletiva à medida que começarmos a viver as questões juntos, como participantes conscientes dessa transição. Neste contexto, o primeiro horizonte (vermelho) representa os sistemas que prevalecem atualmente, que começam a mostrar sintomas de declínio e encurtamento dos ciclos de crises, com recuperações temporárias, mas que nunca atingem seu cerne.

Estrutura três horizontes aplicado à transição rumo a uma cultura regenerativa
Estrutura três horizontes aplicado à transição rumo a uma cultura regenerativa

Em outras palavras, o Horizonte 1 é o business as usual, ou o mundo em crise (H1). É caracterizado pela inovação incremental, que mantém o business as usual ativo. O Horizonte 3 (verde) representa a nossa visão de um ‘mundo viável’ (H3). Talvez não sejamos capazes de definir cada detalhe deste futuro – já que o futuro é sempre incerto –, mas podemos intuir quais transformações fundamentais nos aguardam, e podemos prestar atenção a experimentos sociais, ecológicos, econômicos, culturais e tecnológicos ao nosso redor, que talvez sejam amostras desse futuro em nosso presente. O Horizonte 2 (azul) representa o mundo em transição (H2) — o espaço empreendedor e culturalmente criativo de inovações já tecnologicamente, economicamente e culturalmente viáveis que podem romper e transformar H1 em graus va- riados, com efeitos socioecológicos regenerativos, neutros ou degenerativos.

No momento em que essas inovações de H2 se tornam mais eficazes do que as práticas existentes, elas começam a substituir aspectos do business as usual. No entanto, algumas formas de “inovação disruptiva” acabam sendo absorvidas pelo H1 sem levar a uma mudança fundamental e transformadora, enquanto outras formas de “inovação disruptiva” podem ser pensadas como uma possível ponte do H1 para o H3. No contexto da transição para culturas regenerativas, introduzimos um viés de valor em nosso uso da metodologia Três Horizontes: soluções que criam condições conducentes à vida e estabelecem padrões regenerativos são mais valorizadas do que aquelas que não o fazem. Ao longo deste livro, eu me refiro ao H3 como perspectivas e padrões que pretendem trazer um “mundo viável” de culturas regenerativas, capazes de transformar criativamente enquanto exploram continuamente as respostas mais apropriadas a um contexto socioecológico em rápida mudança.

Este texto faz parte do livro Design de Culturas Regenerativas, de Daniel Wahl, publicado pela Bambual Editora.