Muitas vezes, obras artísticas lançam sobre pautas modernas uma visão fundamental para que pensemos as relações que estamos construindo e qual será, exatamente, o futuro da existência humana.
É isso que o documentário “Quanto tempo o tempo tem” faz, utilizando dos ciclos e de diferentes sociedades para analisar a forma como lidamos com os dias, meses e anos.
Dirigido pelos brasileiros Adriana Dutra e Walter Carrasco, a obra tem chamado a atenção ao lançar uma reflexão sobre o tempo, a civilização e o futuro, principalmente ao analisar como todos vivemos em momentos diferentes, mesmo que todos eles aconteçam no presente.
Para que fique mais claro compreender o documentário, é preciso analisá-lo de forma separada, voltando a atenção para cada um dos constituintes da narrativa. Conheça, abaixo, “Quanto tempo o tempo tem” e reflita sobre a obra!
O documentário
Desenvolvido com recursos públicos, o documentário (disponível na Netflix) é nacional e debate, principalmente, como (hoje) sempre corremos sem motivos e de qual forma a questão do tempo varia de acordo com as sociedades e com a subjetividade de cada um. Confira o trailer:
A obra cinematográfica é iniciada com um monólogo envolvente da própria diretora, Adriana Dutra, que lança um olhar sobre como, na modernidade, tudo sugere velocidade e urgência, ao mesmo tempo em que destaca o tempo e a falta dele no mundo contemporâneo.
Para que olhemos mais profundamente para a pauta, os diretores convidaram filósofos e teóricos para retomar historicamente como as civilizações lidavam com o tempo.
Entendemos que os ciclos são anteriores à vida humana e, para além disso, são os responsáveis por ela. Foi por meio da análise da natureza – e para que nossa própria existência se desenvolvesse – que começamos a cronometrar e a desejar controlar o tempo, ação iniciada na Grécia Antiga, quando precisavam contabilizar o tempo de fala de oradores.
Naquela época, as pessoas não viviam o mesmo tempo. O camponês, se orientava de acordo com a natureza; o padre, com o cronômetro da liturgia; o soldado pela ordem e manutenção.
Foi o relógio mecânico quem tentou instaurar a noção de que todos vivemos o mesmo período e de que seguimos as mesmas regras para contabilizar nossas horas.
A revolução industrial do século XIX possui papel fundante no estabelecimento do tempo como forma de vida cotidiana. Com as fábricas, as horas de trabalho e a necessidade de bater o ponto, a vida passa a ser regrada por períodos de tempo.
Inventa-se, portanto, o tempo. Estabelece-se que o dia terá 24 horas, formadas de 60 minutos, e todos passam a seguir essa noção dentro de um calendário. Foi o próprio tempo, inclusive, que proporcionou a criação de dispositivos que, cada vez mais, o controlasse.
Esse fato levou a um processo de aceleração da própria consciência. A velocidade tornou-se mais comum, de forma que tudo está constantemente correndo.
Chega-se, enfim, na era da internet, a qual “quebra” a noção de espaço. O tempo – de comunicação, de acesso, de troca – torna-se instantâneo. Esse fato, principalmente, gera a sensação de urgência, por permitir que estejamos em contato direto a qualquer momento.
Todas essas transformações, segundo os especialistas do documentário, repercutem também na alteração da felicidade pessoal, porque a forma como temos acesso à comunicação é muito rápida. A dificuldade, portanto, é organizar as informações e entender a instantaneidade ao mesmo tempo em que podemos ser felizes.
O excesso de informações está completamente vinculado ao sentir-se bem porque, quando não conseguimos organizar tudo que estamos vendo, passamos por mudanças pessoais sem que tenhamos noção, o que resulta em desorientação, em infelicidade e em falta de compreensão.
Toda essa agilidade nos leva, ainda, às reformulações das relações interpessoais, que, cada dia mais, são alteradas graças à forma como estamos lidando com a passagem – e o “melhor” uso – do tempo. Conversamos menos pessoalmente, mas estamos toda hora conectados uns aos outros.
Outro ponto levantado durante o documentário é a relação entre tempo e trabalho, visto que, para além do salário, compra-se o período do dia de determinado indivíduo. Logo, sem que percebamos, estamos vendendo partes de nossas vidas.
Nesse sentido, “usar bem o tempo” seria gerar conteúdos e bens (em outras palavras, trabalhar). Dessa forma, precisa-se de horas para que se produza durante elas – e voltamos ao ciclo da urgência e da velocidade em que estamos vivendo.
Ao final do documentário, há o incômodo do futuro. Se, cada vez mais, homem e máquina se fundem através do tempo, o que acontecerá nos próximos anos? Como nossa existência será reformulada? Iremos nos tornar “metade gente e metade máquina”?
O que ficam são, em sua maioria, perguntas. Questionamentos que nos fazem refletir sobre como lidamos com a passagem dos dias, dos meses, dos anos, e por aí vai.
A certeza, todavia, é de que temos o tempo. Sempre teremos, porque, afinal, ele continua graças à sua característica de, ao que tudo indica, ser infinito.
Como você está lidando com o tempo?
Tudo isso nos leva à pergunta que dá nome ao próprio documentário: quanto tempo o tempo tem? E mais: como me orientar no meio dessa passagem?
A resposta, para muitos, é a meditação, por conta de seu caráter “presentificante”. A ideia é se colocar no agora, tentar se distanciar da enxurrada de informações que o tempo todo pipocam na tela do celular. Assim, é possível se desligar, pelo menos por alguns minutos.
Nutrir bons momentos, sozinho ou ao lado de alguém especial, também é uma boa forma de lidar com a passagem do tempo. Dessa forma, torna-se possível criar memórias e momentos de qualidade.
É impossível de fato dizer quanto tempo o tempo tem, porque ele é relativo. O que podemos fazer é nos assegurar de que estamos usando o nosso de uma forma que seja benéfica para todos.
Diminua o ritmo, consuma arte, converse com seus amigos, mantenha quem ama por perto, cuide de si. Para além da agilidade cotidiana, são esses lapsos de tempo que farão a passagem dos dias ser positiva.
Os especialistas
No decorrer do documentário, especialistas e estudiosos entram em foco para comentar sobre o tempo, sua passagem e como estamos lidando com ele na contemporaneidade. Conheça-os melhor abaixo:
Imagem: Reprodução | Liberation | André Comte-Sponville |
Marcelo Gleiser | Imagem: Reprodução | Folha de São Paulo |
Imagem: Reprodução | Paris Normandie | Thierry Paquot |
Luiz Alberto Oliveira | Imagem: Reprodução | Artepensamento |
Imagem: Reprodução | Business Insider | Raymond Kurzweil |
Erick Felinto de Oliveira | Imagem: Reprodução | Lattes |
Imagem: Reprodução | Profissão Biotec | Stevens Rehen |
Domenico de Masi | Imagem: Reprodução | IstoÉ |
Imagem: Reprodução | Casa Vogue | Alexandre Kalache |
Analice Gigliotti | Imagem: Reprodução | Veja Rio |
Max More | Imagem: Reprodução | Kurzweil Al |
Entender sua relação com o tempo é importante para analisarmos nossos hábitos e nutrirmos mais momentos positivos, que gerem a sensação de que, sim, estamos aproveitando cada parte da vida.
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