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Escrito por Larissa Almeida

Chegamos a um ponto da nossa convivência global que mais do que não degradar, precisamos regenerar o planeta para seguirmos existindo enquanto espécie humana. 

Ailton Krenak, pensador indígena, para ilustrar isso conta que havia um pé de moringa no seu quintal e um dia, à tarde, ele viu um grupo de formigas tomarem o pezinho que estava crescendo ali. Elas comeram toda a arvorezinha, não sobrou nenhuma folha, nada, apenas um talo fino. A partir dessa observação ele aponta que nós, humanos, estamos fazendo a mesma coisa com o planeta, comendo tudo, até que só reste o talo. E os talos já estão acontecendo: são os desertos, a fome, os oceanos transformados em depósitos de lixo.

Diante disso, mais do que ter práticas sustentáveis é preciso se comprometer a agir para reverter os danos que já causamos. E isso não se aplica apenas ao ambiente natural, mas é preciso ter ações integrativas para regenerar os sistemas ambiental, econômico e sociocultural.

E o que turismo tem a ver com isso?

Clique para acessar o infográfico sobre 15 ações individuais que mudam o mundo.

O turismo é uma atividade com característica naturalmente integradora, mas que quando não realizado com consciência gera muito impacto negativo no sistema. Para responder a isso, a abordagem do turismo regenerativo tem se disseminado enquanto processo capaz de fortalecer os sistemas de modo a favorecer a sustentabilidade. O turismo regenerativo cuida de criar conexão entre as pessoas, os territórios e a natureza.

Isso lembra algo?

O turismo criativo, claro! O turismo criativo é uma prática que está alinhada aos princípios do turismo regenerativo.

De acordo com Ana Duék em artigo para o blogue viajar verde os princípios do turismo regenerativo são:

Pensamento sistêmico: Não somos seres isolados. Tudo está interconectado e cada ação gera uma reação, que impacta o sistema como um todo e não apenas você;

Três relações: É preciso olhar para a relação consigo mesmo, com o outro e com a natureza, afinal todos estamos interligados. Não há eu e o outro, todos somos partes da mesma natureza;

Natureza como pilar: É preciso restaurar a natureza, mas também considerando os aspectos socioculturais e econômicos;

Colaboração e inteligência coletiva: Mobilizar as pessoas em torno da atividade de modo a gerar valor para todo mundo de modo a garantir a sustentabilidade econômica.

Respostas locais e sentido de lugar: valorizar a cultura local entendendo suas particularidades e diversificação.

Comunidade local como protagonista: A comunidade local tem capacidade para dizer o que deseja e como quer construir isso. Um lugar só é bom para o visitante se é bom para quem vive ali.

 Qualidade ao invés de quantidade: analisar o sucesso das ações baseados em dados qualitativos e não apenas quantitativos.

Desconstruir o modelo de negócios: elaborar um modelo de negócio próprio, que responda às peculiaridades locais e que integre indicadores de sucesso alinhados à prática regenerativa.

O turismo criativo é uma prática motivada pelo desejo do viajante de aprender algo peculiar sobre o local, mediado por um anfitrião que tem conexão profunda com o território e com a expressão cultural a ser compartilhada. Para que a imersão no território aconteça, é preciso integrar diversos atores da comunidade de modo que a vivência apresente a realidade diversa do local, esse movimento também gera renda e sustentabilidade econômica expandida. Ao final da experiência, ambos, viajante e anfitrião estão transformados e poderão seguir espalhando o aprendizado dessa prática nas suas comunidades.

O turismo criativo nos ensina que somos responsáveis pelos impactos da nossa prática turística e a cultura regenerativa nos convida a cuidar da vida com consciência de que esta é melhor maneira de cocriar a realidade que desejamos.

Larissa Almeida é pesquisadora e facilitadora de processos nas áreas de Turismo Criativo, criatividade e inovação social, cofundadora da Recria – Rede Nacional de Experiências e Turismo Criativo – e autora do livro Turismo Criativo, uma viagem por culturas, encontros e experiências publicado pela Bambual Editora. Fotografia de Deborah Guelman. Fotografia da ciranda, no início da postagem, Guga Matos.

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